03 março, 2010

Doença ou Pecado

De bom-humor meditando durante a Quaresma

"Quando algum de nós reconhece estar triste, deve pensar: é que não estou suficientemente perto de Cristo."

- Como?

"E o mesmo deve pensar quando reconhece em si uma clara tendência para o mau humor, para a irritação."

- Tô ficando irritada...

"E não deve pretender jogar a culpa nas coisas que tem à sua volta, pois seria um erro e uma maneira de se desorientar na procura da causa dos seus estados de ânimo"

- Hum, interessante isso: jogar a culpa; causa dos seus estados de ânimo.

"Às vezes, certa apatia ou tristeza espiritual pode ser motivada pelo cansaço, pela doença..."

- Ufa!

"...mas com muito mais freqüência procede da falta de generosidade em corresponder ao que o Senhor nos pede, do pouco esforço em mortificar os sentidos, da falta de preocupação pelos outros. Em resumo, de um estado de tibieza."

- Pera lá, tibieza não: tristeza, mau humor, irritação, apatia? Tá com cara de TDAH, isso sim.

"Em Cristo encontramos sempre o remédio para uma possível tibieza e as forças para vencer defeitos que de outro modo seriam insuperáveis."

- Verdade. Para Deus nada é impossível. Ainda bem que Ele nos providenciou a Medicina.

"Quando alguém diz: "Sou irremediavelmente preguiçoso, não sou tenaz, não consigo terminar as coisas que começo, deveria pensar (hoje): Não estou tão perto de Cristo como deveria."

- Ou então: "Caramba, esqueci de tomar o meu remédio".

Estas citações foram tiradas do livro de meditações Falar com Deus, vol. 2, de Francisco Fernandez-Carvajal, que por sua vez, segundo as notas de rodapé, diz que estas citações foram tiradas do livro Tiempo para Creer de A.M. Garcia Dorronsoro.

O interessante nisso tudo é que esse livro, pelo que pude levantar, foi publicado em 1971. Mas somente nos anos 80, ou seja uma década depois da publicação do livro, é que o Transtorno de Deficit de Atenção (convenhamos, que nominho mais "nada a ver" esse) foi definido e classificado na Psiquiatria.

Não me entenda mal, por favor. Não estou fazendo pouco caso nem tampouco desconsiderando a validade do argumento do autor. Mas não consigo deixar de pensar como o autor dessas palavras aí acima teria escrito o seu texto se ele tivesse conhecimento desse famigerado transtorno naquela época.

Eu acredito que muitos dos males da humanidade tem a ver com o afastamento de Deus ou com uma confusão que fazemos do Sagrado. Isto posto, devemos também considerar com seriedade os males físicos e suas implicações.

O verdadeiro diagnóstico de TDAH deve estabelecer que a pessoa já possuía a "doença" antes dos 7 anos de idade. Ou seja, o quadro tem que se apresentar na infância. E quem é que pode afirmar que uma criança nessa idade está longe de Jesus Cristo?

Então, Como diferenciar entre um mal moral e um mal físico?

"Por isso, aquilo que cada um de nós possa reconhecer na sua vida como defeito, como doença, deveria ser imediatamente referido a este exame íntimo e direto: Não sou perseverante? Não estou perto de Cristo. Não sinto alegria? Não estou perto de Cristo. Vou deixar de pensar que a culpa é do trabalho, que a culpa é da família, dos pais ou dos filhos... Não. A culpa íntima é do fato de eu não estar perto de Cristo."

- Que é isso? A causa do meu TDAH é não estar perto de Cristo? Não, não.

Pode até ser que eu não esteja perto de Cristo como deveria, e provavelmente é, mas também é fato que meu TDAH é um caso clínico.

Claro que se você não é cristão, essa discussão toda é irrelevante e sem sentido.

Mas se você é cristão, e está em dúvida sobre aquilo que lhe aflige, um diretor espiritual é uma mão na roda nessa hora. Ele pode ajudar a discernir se você precisa se aproximar mais de Cristo ou se precisa procurar um médico.

Agora no frigir dos ovos, já dizia a minha avó, prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém: a gente sempre pode se aproximar um pouquinho mais de Deus, não é mesmo? E por que não fazer isso agora. Só temos a nos beneficiar com isso.

Já dizia São Paulo: Agora é o tempo favorável (2 Cor 5, 20)


Hei, e não esqueça de tomar seu remédio! AGORA!
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3 comentários:

Luís Guilherme Fernandes Pereira disse...

Acho o argumento ainda validíssimo -- aliás, tenho o livro. Não dá para ficar enfiando Ritalina goela abaixo de qualquer pessoa que sofra com falta de vontade.

Virou uma moda de qualquer problema ser diagnosticado como DDA (que agora se chama TDAH), e isso é perigoso demais.

Concordo contigo que há de existir uma análise clínica muitas vezes. Mas, em geral, o autor citado está certo, e é um bom antídoto para a idolatria da medicina que vemos hoje.

Sandra Katzman disse...

Ressalto que o diagnóstico de TDAH (DDA) só é verdadeiro se o quadro se apresentar na infância, pois como é um questão de má-formação cerebral, não tem como a pessoa "desenvolver" a má-formação depois.

UM CANTINHO SÓ MEU disse...

Devo fazer um adendo: o que a Sandra escreveu procede e muito. Claro, temos que cuidar da nossa vida espiritual, certamente. Mas descobri que muita coisa que eu pensei (e chorei muitooooo) ser pecado na verdade era decorrência do meu transtorno. Saber disso e ter um bom diretor espiritual (que aliás foi quem me incentivou a procurar um médico) me ajudou muito a por essas coisas no lugar: minha vida de oração e buscar a Deus, sim. Tomando meus remédios também, já que eles me facilitam conseguir essa vida de oração, pequeno porém. Então acho muito bom e valido o post, pois eu lembro de quantas vezes fui ao confessionário em lágrimas e hoje sei que muito do que me afligia não era um pecado, era um transtorno físico/mental/químico.