30 setembro, 2009

Pressão alta

Existe relação entre Distúrbio de Atenção e pressão alta?

Uma vez por ano vou ao médico checar se está tudo bem. A visita não tem nada de especial: verifica-se o peso, temperatura, pressão sanguínea, batimento cardíaco, pulmões. Depois é um aperta-aperta aqui e ali que me faz pensar se é assim que se sente uma massa de pizza.

[No mundo da Lua]: Hummm pizza, lombinho, catupiry, tomate ... ai que fome.

[De volta pra Terra]: Ah é, pizza não tem sentimentos.

Médica: Estou preocupada com sua pressão, toda vez que você vem aqui sua pressão está alta.

Eu: Sabe doutora, minha pressão sempre esteve mais para baixa do que para alta, vai ver que é porque toda vez que eu venho aqui, eu chego afobada porque estou sempre atrasada. (sheesh, será que ela esqueceu que eu sofro de TDA)

Bom, ela não se convenceu, e eu saí de lá com a tarefa de medir a minha pressão 3 vezes ao dia, durante um mês.

Voltei com as medições: baixa pela manhã, alta (mas nem tanto) no almoço, e voltando ao normal antes de dormir.

Médica: Estou preocupada com essa flutuação na sua pressão, você está fora do peso e seu colesterol está alto. Você vai ter que fazer uma hora de exercício cardiovascular todo dia, vou passar receita para o colesterol e para a pressão.

Aff... Haja pressão.

Eu: Tudo bem doutora, minha mãe tem colesterol alto e parece a Oliva Palito, eu sei que dessa eu não escapo. Agora, será que a pressão não está flutuando assim por causa do medicamento para TDAH. Veja bem, de manhã quando a pressão está normal-baixa, é quando eu tomo o medicamento; no almoço a pressão sobe porque o medicamento está agindo; à noite a pressão volta ao normal porque o remédio já foi eliminado. [Tah-dah!]

Médica: É, faz sentido. [dóin-óin-óin-óin-óin]

Ufa! Dessa eu escapei. Peraí, devolve meu dinheiro, pô.

Li numa publicação específica para Distúrbio de Atenção de 2008 o seguinte:

De acordo com os relatórios da American Academy of Pediatrics (AAP) publicados recentemente no periódico Pediatrics, apesar de sugestão prévia da American Heart Association, crianças e adolescentes não precisam fazer um eletrocardiograma (ECG) antes de tomar medicação para TDAH de ação estimulante como Ritalina, Adderall, e Concerta.

A American Heart Association (AHA) tinha publicado sua recomendação (sobre fazer o ECG) online em abril em resposta a um estudo que mostrou que os medicamentos estimulantes usados no tratamento de TDAH podem elevar a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos. Contudo, são raras as complicações graves advindas desses medicamentos, com incidência de morte súbita por medicamento estimulante ocorrendo numa taxa de 4 em 2.5 milhões de crianças americanas por ano.

A American Academy of Pediatrics (AAP), uma organização sem fins lucrativos composta por 60.000 pediatras, ficou preocupada que a recomendação da AHA resultasse em exames desnecessários e possivelmente impedisse as crianças de obter o medicamento para tratar o TDAH.

Como resposta, a AHA relaxou seu posicionamento sobre isso. Ambas as instituições ainda mantêm a importância de um exame completo antes de tomar medicamento estimulante, mas para a maioria das crianças, não é necessário fazer o ECG.
[No mundo da Lua]: Como esquecer a fome com toda essa sopa de letrinhas.

Bom mas e aí? Na sua opinião, o ECG deve fazer parte do tratamento de Distúrbio de Atenção? Como seu médico lida com isso? Você já teve ou tem esse tipo de problema?

Ah, você nunca tinha pensado sobre isso. Tudo bem, deixe seu comentário mesmo assim.
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14 setembro, 2009

Circuito de Recompensa

Foi observado déficit no Circuito de Recompensa Cerebral em pacientes que sofrem de TDAH.

Esse é o título do relatório de uma pesquisa feita com pessoas portadoras e não portadoras do Déficit de Atenção. Esta pesquisa foi feita nos Estados Unidos e contou com o apoio do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH-National Institute on Mental Health) e do Instituto Nacional de Abuso do Alcool e Alcoolismo (NIAAA-National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism) ambos parte do Instituto Nacional de Saúde (NIH-National Institutes of Health). O relatório foi publicado na edição de 09/09/2009 da revista JAMA (Journal of the American Medical Association).

Sopinha de letras à parte, e dada as devidas referências, vamos ao que interessa.

Os amigos que me perdoem a ignorância, mas eu não sabia que nosso cérebro possui uma coisa chamada Circuito de Recompensa. Por causa disto, quando li a notícia, é claro, fiquei boiando.

Então não dava para continuar lendo a notícia, sem saber que raios é esse tal circuito. É claro que eu continuei lendo, imagina se eu ia parar ali. Entendi "lhufas" daquilo li. Mas é para isso que existe o "pai dos burros", quer dizer, o Google. Que maravilha é a tecnologia! Encontrei esse site que explica direitinho como funciona esse circuito.

Mas não explica a tal da deficiência. E sou eu quem vai ter um curto-circuito, já já.

Isso tá lá no relatório e só quem assina a tal publicação (JAMA) é que tem acesso ao texto. Não se desespere. Para quem não assina o JAMA, um resumo das descobertas pode ser encontrado, em inglês, na "Press Release" do laboratório onde foram feitas as pesquisas.

Se você sofre de TDAH, você já deve estar de saco cheio resmungando porque eu não vou logo ao que interessa. Credibilidade é a resposta, preciso dar credibilidade aquilo que estou escrevendo.

Vamos lá!

A deficiência que eles encontraram é uma quantidade menor de receptores e transportadores(bomba de recaptação) de dopamina na sinapse. A explicação da sinapse está no último quadro da apresentação que eu indiquei lá em cima. Como eu sou uma pessoa que gosta de visualizar as coisas, resolvi colocá-lo aqui.


De acordo com a pesquisa, nós TDAHs possuímos menos quantidade de receptores (em vermelho), e menos quantidade de transmissores (em azul). Ou seja, é uma questão fisiológica, física.

Qual o impacto disso?

Achava-se até então, que nossos cérebros produzem menos dopamina. A pesquisa não trata disso. Ela mostra no entanto, que temos menos receptores e transportadores de dopamina. No frigir dos ovos, o resultado é o mesmo: não sentimos satisfação, realização, prazer em coisas que pessoas "normais" sentem da forma como elas sentem. Ou então, sentimos menos satisfação - e portanto não temos motivação suficiente.

A pesquisa foi feita em equipamento de Tomografia por Emissão de Positrons (PET). Isso é importante porque até hoje não havia um meio de se testar se uma pessoa possui Deficit de Atenção ou não. O diagnóstico fica sujeito a um critério subjetivo do médico. O problema é que tem médico que acredita que TDAH não existe.

Estamos longe de poder obter o diagnóstico por equipamento PET. Mas vai chegar o dia em que o indíviduo vai poder fazer uma tomografia que indicará se os níveis de receptores e transmissores de dopamina no circuito de recompensa cerebral são normais ou não.

Mas fica só nisso?

Claro que não. TDAH é muito mais complexo do que só uma questão de recompensa. A possibilidade concreta da tecnologia permitir que se faça o diagnóstico é muito animador. Minha esperança é chegar o dia em que não se ouvirá mais TDAHs sendo chamados de preguiçoso, burro, lerdo, vagabundo, sapeca, levado e mais outros adjetivos a critério seu.

TDAH não é um problema moral, nem muito menos de disciplina e auto-controle. TDAH é real!
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09 setembro, 2009

Agora é o livro

«DDAs (nome dado a quem sofre de TDAH) adoram livros. Isso não é uma surpresa, visto que temos um apetite por novas estórias, ideias, e informação. Mas a falta de tempo, energia e concentração faz com a gente não leia tanto quanto gostaríamos de ler.» -- Michael Sandler.

Li isso num artigo da revista americana ADDitude.

Cadê meu livrooooo!

Se você leu a minha postagem de ontem, você deve estar pensando que eu sou mesmo cabeça oca. Hoje finalmente caiu minha ficha .

Sabe o que é: sexta-feira passada eu estava tomando café sentada lá fora. Tinha comigo o meu Terço, meu livro de orações e o livro O Estrangeiro de Alberto Camus que o pessoal do Clube do Livro do Orkut está discutindo esse mês. E eu já estou atrasada na minha leitura. Pretendia ler o livro depois das minhas orações e passar uma manhã agradável, relaxante, ao ar livre (comprovadamente benéfico para DDAs) na companhia da minha gatinha.

No meio da minha oração, escutei um barulho e quando fui ver era um passarinho que tinha trombado na janela da sala. Caiu duro no chão e não se mexia. O inverno está chegando e os passarinhos passam por aqui em rota para o sul. As andorinhas já se foram, as borboletas também. Esse passarinho eu ainda não tinha visto.

A partir daí, na minha cabeça DDA tudo virou secundário. A urgência de chegar até o bichinho antes do gato era óbvia.

Urgência, salvamento, o inesperado, surpresa: dá-lhe dopamina no cérebro. Tirei um monte de foto, queria ligar para o maridão lá no hospital e contar a novidade, será que precisava levar no veterinário? Entrei em auto-foco. O foco era o bem estar do passarinho; nada mais importava.

Peguei o passarinho na mão, levei para dentro da casa, dei água, procurei ver se não tinha se machucado - o coitado estava tão quente, sabe-se lá de onde ele estava vindo.

Afastado o perigo do gato e constatado que ele não estava sangrando, abri a minha mão e fiquei esperando que ele voasse.


Ele não voou. Pelo contrário. Fez cocô na minha mão! Depois de ter se aliviado, acabou levantando voo e eu voltei pra casa, toda emocionada querendo contar para todo mundo sobre o evento tão inusitado. E lá fui eu para o computador. Depois de muitos e-mails pra lá e pra cá, ficamos sabendo: trata-se de um Yellow Warbler.

Uau! Yellow Warbler! Mas o que é isso em português? Mais internet, mais Google e lá se vai o dia.

Trata-se de um Mariquita Amarela. Aí me lembrei da minha professora Dna. Mariquinha... e mais todos os coleguinhas de classe.

Nessa agitação toda, eu te pergunto: onde é que foi que eu botei o livro?

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O Terço eu já achei.
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08 setembro, 2009

Miau!

Já tem duas noites seguidas que minha gatinha me acorda às cinco da madruga. Não, não faço a menor idéia por que. E o meu sono, ó, miau!

O fato é que noite mal dormida é um veneno para quem sofre de TDAH. Quem tem, sabe do que estou falando. E TDAH atacado é dose para elefante.

E agora estou eu aqui, com os pensamentos pulando feito pipoca na minha cabeça: não consigo me concentrar naquilo que estou lendo; cometo erros patéticos na escrita; e quando vou falar pareço bêbada, o que sai da minha boca não faz sentido nenhum: e eu, frustrada, acabo sendo grosseira com quem não tem nada a ver com isso - leia-se, meu marido.

É preciso muita calma nessa hora. Meditar ajuda, ouvir música também. Mas quem é que consegue fazer uma ou outra quando tua cabeça fica te sugerindo idéias de coisas diferentes para fazer a cada segundo????

E por falar em meditar, não sei onde coloquei meu Terço, ainda bem que tenho mais que um - aliás a reza dele foi uma piada, ainda bem que para Deus não existe oração perdida.

A paciência é uma virtude que já tinha que vir de fábrica em qualquer TDAH. Como não é, e não dá para a gente ter um cérebro de reserva (já pensou?), sugiro que você tenha coisas essenciais em dobro na sua casa: duas chaves de carro, duas chaves da porta, duas tesouras, dois telefones sem fio, dois Terços... e já vai avisando o maridão: é bem possível que o jantar saia queimado hoje.
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Mas o que é que eu tinha que fazer mesmo ...? Já sei, vou encomendar uma pizza.
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25 agosto, 2009

Um dia na vida de...

Confissões de distraídos anônimos... Visto, lido ou ouvido nesse mundão afora..

Fui diagnosticada recentemente com TDAEI - Transtorno do Deficit de Atenção Estimulado pela Idade

É assim que se manifesta:

-Dedidi aguar os vasos de plantas no jardim da frente.
-Quando fui abrir a torneira da mangueira, olhei para o meu carro e percebi que precisava ser lavado.
-Fui pegar a chave do carro que estava na varanda e vi que o correio tinha chegado.
-Decidi verificar o que tinha chegado antes de começar a lavar o carro.
-Coloquei a chave do carro na mesinha da varanda, separei a correspondência e coloquei o que não prestava num cesto de lixo perto da mesinha, e percebi que o lixinho estava cheio.
-Então, decidi colocar as contas para pagar na mesinha e colocar o lixo pra fora.
-Aí pensei, posso aproveitar para ir até a caixa do correio quando for colocar o lixo pra fora, então é melhor fazer os cheques para pagar as contas e evelopar tudo agora.
-Peguei meu talão de cheques e percebi que só tinha uma folha.
-Meu outro talão de cheques estava na mesa do computador, então entrei em casa e fui até minha escrivaninha onde encontrei a lata de Coca-Cola que eu tinha começado a tomar mais cedo.
-Para pegar meu talão de cheques, precisei mudar a lata de Coca de lugar para não esbarrar nela acidentalmente.
-A Coca estava esquentando então decidi colocá-la na geladeira.
-Levando a Coca-Cola, quando cheguei na cozinha vi um outro vaso na janela - as plantas precisam de água.
-Coloquei a Coca no batente da janela e descobri onde estavam os meus óculos que estava procurando desde cedo.
-Decidi que é melhor colocá-los na minha escrivaninha, mas antes fui regar as plantas.
-Coloquei os óculos de volta no batente, enchi uma vasilha com água e de repente vi o controle remoto da TV. Devo tê-lo deixado ali na mesa da cozinha.
-Aí me dei conta que quando fosse assistir TV hoje à noite, iria ficar procurando pelo controle remoto, mas não iria me lembrar que ficou na mesa da cozinha, então decidi colocá-lo de volta perto da TV onde é o lugar dele, mas antes, fui regar as plantas.
-Coloquei um pouco de água no vaso, mas a água espirrou no chão.
-Então, coloquei o controle remoto de volta na mesa da cozinha, peguei um pano e enxuguei a água.
-Aí voltei para a sala tentando me lembrar o que é que eu pretendia fazer.

No final do dia:

-Os vasos de planta do jardim da frente não foram regados,
-O carro não foi lavado,
-As contas não foram pagas,
-Tem uma lata de Coca-Cola quente no batente da janela perto da escrivaninha,
-As flores do vaso da cozinha não receberam água suficiente,
-Só tem um folha de cheque no meu talão,
-Eu não consigo encontrar o controle remoto,
-Não consigo encontrar os meus óculos,
-E NÃO faço a mínima idéia do que eu fiz com a chave do carro.

Aí, quando tento raciocinar por que nada foi feito hoje, eu fico absolutamente confusa porque eu sei que eu estava ocupada o dia inteiro, e estou completamente exausta.

Percebo que este é um problema sério e tento encontrar ajuda para isto, mas antes preciso checar meu -email.

Faça-me um favor, envie essa mensagem para todo mundo que eu conheço, porque eu certamente não me recordo para quem eu já mandei.


Ficou atordoado? Agora imagine: essa é a rotina da maioria dos TDAH. Esse bem que podia ter sido o meu dia. A diferença é que eu quero encontrar Deus nessa bagunça toda.
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Lá fora está abafado. Será que vai chover?
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23 agosto, 2009

Em cima do telhado

Confissões de DDAs... Visto, lido ou ouvido nesse mundão afora...

Eu me lembro de uma prova na faculdade; a pergunta era: "Aonde você iria se quisesse ver a constelação "tal". Minha resposta foi "em cima do telhado". Eu e o professor ficamos discutindo a minha resposta durante dias. Pois, como eu não tinha carro, e só dá para ver as estrelas à noite, eu não ia caminhar no escuro à lugar nenhum para ver o que quer que fosse. Ele finalmente me perguntou em qual direção eu olharia se quisesse ver a constelação: "Para cima". Mas essa também não era a resposta correta. Até que enfim ele entendeu: Em qual direção, norte, sul, etc, você olharia se quisesse ver esta constelação. Eu respondi, passei na prova e consegui meu diploma.
Uai, faz sentido, não faz?

Promonho uma campanha pela clareza nos testes de conhecimento. Quem é a favor levante a mão.
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O dia está abafado, não corre uma brisa sequer.
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22 agosto, 2009

I made it through

Barry Manilow, um cantor dos anos 70, gravou uma música chamada I Made it Through the Rain (em português: Eu Sobrevivi à Chuva) e ela tem um significado especial para mim pois a letra reflete de uma forma poética a minha experiência como portadora do Déficit de Atenção.

Em primeiro lugar, ele se dirige aos sonhadores. É comum pessoas DDA serem tidas como que vivem no mundo da lua, sonhando acordado. Também possuem seu jeito próprio de encarar as coisas, diferente do considerado "normal".

As analogias são muito parecidas.

Esse transtorno, deixa o sofredor, em determinados dias, como se estivesse sob uma névoa densa, um dia nublado, pesado, chuvoso, sem visibilidade, sem rumo. Nesses dias, a gente tenta se segurar, se proteger para não sair da estrada e não cair ribanceira abaixo. E quando tudo isso passa, é como se a névoa se dissipasse, as pesadas nuvens passassem, e o sol saísse de novo - a vida fica mais clara.

A luta é diária para saber lidar com isso, passar por esses momentos de forma vitoriosa, sem muito estrago, e sobreviver. Muitos passam por isso e não sabem por que. Muitos não demonstram. Muitos não entendem. Muitos são marginalizados por serem do jeito que são, até pela própria família que não entende isso direito. Afinal, se não for tratado, o sujeito acaba passando por preguiçoso, lerdo, ou grosso. O tratamento é nosso farolete, nosso guarda-chuva, nosso desumidificador, nosso limpador de parabrisa.

Uma outra característica que afeta bastante os portadores é o falar sem pensar, falar mais que a boca, interromper à todo momento, ou a sinceridade bruta. Por causa disso, existe uma grande dificuldade em manter amizades, afinal quem é que suporta viver perto de gente assim. Essa é uma luta solitária.

O importante é não desistir; porque muito embora o sol apareça de vez em quando e dissipe a névoa causada pela falta de concentração mental, somente na redenção, conquistada por Cristo Jesus, é que o Sol irá brilhar permanentemente. Você que anda por esse mundo afora, e sofre deste mesmo mal, coragem. No nosso destino final, nos encontraremos e diremos uns para os outros; "Eu sobrevivi" - I made it through.

Esta é a letra da música, e ela pode ser ouvida no YouTube (se eles não removerem o clip) clicando nesse link

Lembre-se que tradução de poesia não dá para ser literal!

-- O nome da nossa chuva é Deficit de Atenção --












































































































We dreamers have our waysNós sonhadores temos nosso jeito
Of facing rainy daysDe encarar os dias chuvosos
And somehow we surviveE de alguma forma sobrevivemos


































We keep the feelings warmNão deixamos os sentimentos esfriarem
Protect them from the stormProtegendo-os da tempestade
Until our time arrivesAté que chegue a nossa hora


































Then one day the sun appearsE aí o sol aparece
And we come shining through those lonely yearsE saímos daqueles anos solitários brilhando novamente


































I made it through the rainEu sobrevivi à chuva
I kept my world protectedConsegui proteger o meu mundo
I made it through the rainEu sobrevivi à chuva
I kept my point of viewNão perdi o rumo
I made it through the rainEu sobrevivi à chuva
And found myself respectedE encontrei o respeito
By the others whoDaqueles que
Got rained on tootambém se molharam (passaram por isso)
And made it throughE sobreviveram


































When friends are hard to findQuando é difícil encontrar amigos
And life seems so unkindE a vida parece tão desgradável
Sometimes you feel so afraidé normal sentir medo


































Just aim beyond the cloudsNesse momento, mire para além das nuvens
And rise above the crowdssobressaia-se diante das multidões
And start your own paradeE siga em frente


































'Cause when I chased my fears awayPorque quando eu espantei o medo
That's when I knew that I could finally sayFoi aí que eu descobri que podia dizer finalmente


































I made it through the rainEu sobrevivi à chuva
I kept my world protectedNão perdi o rumo
I made it through the rainEu sobrevivi à chuva
And found myself respectedE encontrei o respeito
By the others whoDaqueles que
Got rained on tootambém se molharam
And made it throughE sobreviveram


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Lá fora o dia está ensolarado. É final de Verão, de vez em quando tem uma pancada ou outra de chuva.
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20 agosto, 2009

Confiança

"Eu não pus a confiança no meu arco,
a minha espada não me pôde libertar;
mas fostes Vós que nos livrastes do inimigo..."
Sl 43(44), 7ss.

Quê isso? Arco? Espada? Inimigo?
Sai pra lá, ô! Não estamos mais em época de arco e flecha, hoje em dia temos uma tecnologia mais avançada, somos modernos, usamos homens-bomba. Tem gente que afirma de pé junto que o virus H1N1 foi feito para matar o inimigo.

Teorias da conspiração à parte, como entender os salmos hoje? Esse aí em particular, será que dá para fazer uma analogia? Vamos tentar...

Quem é seu inimigo?
Ninguém, "eu sou da paz"!

Tudo bem... então vamos refazer a pergunta:
O que é que você está tentando vencer em si mesmo?

A impulsividade? Falar sem pensar? A falta de organização? A inquietação?

Ah! mas você não sofre de Transtorno da Atenção... tudo bem!

Quem sabe, então, precisa dar um jeito no desânimo que de vez "em sempre" te ataca ou essa depressão que parece que veio para ficar. Talvez preguiça, maus pensamentos, ciúmes, inveja, rancor, mágoa...

Conseguiu perdoar aquela pessoa? É, essa mesmo!

E a sua língua, como vai? Anda bastante ocupada ultimamente?

Quando eu penso em inimigos, é nisso que eu penso. Afinal, foi São Paulo quem disse que não é contra homens de carne e osso que temos que lutar (cfr. Ef., 6).

Então. Como está a sua luta contra a irritação ou a falta de paciência? Ah, a falta de paciência. Quanto mais paciência eu peço, menos eu tenho! Não tem nada de carne e osso na falta de paciência, não é mesmo?

O salmista diz que não pôs a confiança no seu arco, isto é, não se apoiou nas suas próprias armas, nas suas próprias forças. Mas declara que é Deus quem o liberta de seus males. E indiretamente nos dá a entender que é Nele que devemos por a nossa confiança.

Mas o que isso significa? Será que se eu por a minha confiança em Deus eu serei transformada num poço de paciência? Para Deus nada é impossível, mas não é nisso que eu me concentro.

Se, no momento em que parece que vou explodir, eu conseguir me lembrar de Deus e dizer "me ajuda, Senhor", para mim já é uma grande coisa. Porque eu sei que por minhas próprias forças eu não consigo acalmar meu coração. Não tem cházinho nem vinho que dê jeito.
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Falando em vinho, lá fora faz um sol maravilhoso, e uma taça de Sauvignon Blanc cairia muito bem, pena que aqui em casa não tenha nenhum. Haja paciência viu! O jeito é ir de chá gelado mesmo.
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11 agosto, 2009

Amor

Outro dia estava na Missa e a minha mente estava à mil. Era um daqueles dias em que não dá para relaxar. Um daqueles em que não dá para não prestar atenção à tudo que está acontecendo ao redor. O cérebro estava hiperativo, turbinado, e tudo me chamava a atenção.

É enorme a energia que o corpo gasta para acompanhar os pensamentos quando estamos neste estado mental. Além disso, a gente fica tentando controlar esses movimentos cerebrais, como se isso fosse possível. Inútil, absolutamente inútil falar interiormente para parar de prestar atenção nisso ou naquilo, para tentar relaxar, para se interiorizar. Dias assim geralmente a gente fica esgotado fisica, mental e emocionalmente.

Então, não há como se concentrar no sacrifício da missa. A mente presta atenção no cara que chegou atrasado, no sapato da fulana da frente, na bolsa da mulher do lado... Na tentativa de parar esse processo, fecho os olhos, mas a mente está em estado de alerta e se recusa a sossegar, então os sons tomam vida própria, e aí surge a pessoa que está com pigarro na garganta, a outra que parece que tem formiga onde está sentada, as duas senhoras que não param de cochichar, a pessoa que reza adiantado, etc. Dá para perceber o que está acontecendo? É, vou ficando aos poucos e cada vez mais, irritada!!! E cansada, afinal gasto uma energia enorme tentando controlar esses pensamentos que saltam feito pipoca na minha cabeça.

E a coisa vai piorando, o padre é gago e não enxerga direito; a pessoa que foi fazer a leitura devia estar nervosa e se perdeu no texto, o pessoal da coleta devia estar dormindo porque demoraram para passar a cestinha. Acho que nem preciso falar da música, fora de compasso e desafinada, a moça se perdeu na partitura. Aaarrrrggghhhhhhh... tenho vontade de gritar.

Depois da comunhão converso com Jesus, explico a minha frustração, digo que estou inconformada com a falta de preparo e o desleixo desse povo. Será que não dava para eles terem se preparado melhor, Jesus, para servi-lo de forma apropriada? Será que o Senhor não merece mais dedicação?

"Mas o que Me importa é o amor com que eles fazem essas coisas por Mim."

Já dizia São Paulo:

"Ainda que eu tenha o dom de profecia e conheca todos os mistérios e toda a ciência, ainda que possua a fé em plenitude, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada sou. Ainda que reparta por inteiro os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita."

Da última vez falei de graça. Esse dia na missa recebi a graça de perceber aquilo que é importante na vida: o amor que colocamos naquilo que fazemos.
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Lá fora o dia está belo e a brisa é leve.

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06 junho, 2009

Graça

Já faz algum tempo que não consigo fazer aquelas coisas que até algum tempo atrás fluiam sem nenhum empecilho, tipo orações, leitura, meditação. Não é que eu esteja inativa, muito pelo contrário. Parece que estou numa daquelas fases tipo caminhão atolado na lama; a roda gira, gira, gira, mas o caminhão não sai do lugar.

Explico: eu sento para ler um livro, e já no primeiro parágrafo que leio me pipoca um pensamento na cabeça desviando a atenção para a tal coisa pensada. No meio da reza do Terço então nem se fala. "Ah", diz o leitor desavisado, "mas isso é normal". Sim e não, depende da situação de cada um.

Vou dar um exemplo no meu caso: Imagine que você vá estourar pipoca, e coloca na panela uma xícara de milho. É milho pra dedel. Da mesma forma, e quase que com a mesma velocidade com que estes grãos de milho pipocam na panela, acontece com os pensamentos que pipocam na minha cabeça nos dias em que, por alguma razão que desconheco, as sinapses do meu cérebro resolvem pipocar. O pior é que o corpo acompanha aquilo que o cérebro comanda, e aí a gente fica pulando feito pipoca de um lugar para outro, de uma atividade para outra, sem terminar nem uma nem outra. E no final do dia se está exausto e não se realizou absolutamente nada de concreto.

Tenho meditado muito sobre isso, e a sensação de viver uma vida na qual não se tem o controle daquilo que se deseja fazer é frustrante, no mínimo. Note que isso acontece em todos os aspectos da vida. Para mim não importa muito a desorganização da casa, mas o bicho pega em se tratando de espiritualidade. A sensação de impotência, de miséria mesmo, na hora da oração para aquele que procura agradar a Deus, é esmagadora. Não consigo deixar de lembrar na frase de Cristo: "não fostes capaz de vigiar uma hora comigo? " A realidade é estarrecedora: não, tem dias que não sou capaz de vigiar nem mesmo cinco minutos.

Meu Deus, como pode ser isso? Não me considero uma pessoa relapsa! A resposta que eu obtive em minhas orações, desse jeito mesmo, é que "tudo é graça". O que isso quer dizer?

Para quem acredita em Deus e no Cristo de Deus, isso significa que nada nessa vida conseguimos por nossas próprias forças. Sem a graça de Deus, sem o dedo de Deus em nossas vidas, é impossível fazermos o que quer que seja. Até mesmo rezar.

E para aqueles que são que nem são Tomé, somente quando a vida parece que não vai para a frente, aliás, quando a vida não vai para lado nenhum, e a gente fica com aquela sensação de que somos meros passageiros num bonde que está indo sabe-se lá para onde; somente aí percebemos que tudo é graça. Foi isso o que aconteceu comigo.

O que fazer nessas horas de impotência?

Se eu já não consigo acalmar meu pensamento para estar com Deus, ouvir e meditar sua palavra, como nos ensina a tradição, por exemplo, da Lectio Divina; a única coisa que me resta é oferecer a minha vontade, o meu propósito de fazer aquilo e a reconhecer a minha incapacidade de fazê-lo sem o auxílio de Deus. E esta é a minha oração; a medida do meu amor por Deus. Porque no final das contas, o que Deus quer de nós é que o amemos de volta e o resto fluirá deste amor.
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Enquanto isso, lá fora, o mar está calmo.
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06 abril, 2009

Fases

As fases da lua duram em média 7 dias.

Como a última vez que eu escrevi aqui foi em dezembro, não posso usar a desculpa das fases da lua para explicar por que só hoje volto a postar algo.

Afinal, o que é que influencia a disposição da gente? Como conseguir manter uma constância no nosso comportamento?

Quem me dera poder encontrar a resposta para essas perguntas. A verdade é que já rachei a minha cabeça pensando neste mistério. Sim, porque me parece que a única coisa constante na minha vida é a certeza de que eu vou me propor a fazer algo e vou deixar a peteca cair durante um determinado período. Na minha vida e na vida daqueles que participam desse mesmo destino, o 'tempo' vira um buraco negro.

Quando eu comecei este blog, achava que seria capaz de escrever algo pelo menos uma vez por semana. Não comecei com grandes ambições - eu me conheço. Já comecei e não terminei muitos projetos na minha vida para saber dosar as minhas expectativas. Pô, mas eu deveria ser capaz de postar algo pelo menos uma vez por semana!

E aqui estou eu, três meses depois. A diferença é que desta vez eu não estou sendo tão dura comigo mesma. Estou aprendendo a dosar a severidade da minha auto-flagelação mental. E esse é um fator importante para quem faz parte deste universo paralelo onde vivem aqueles que sofrem do transtorno da atenção. Aliás não existe nome pior do que esse. Não foi falta de atenção que me levou a ficar tanto tempo sem escrever. Também não foi porque minha atenção estava direcionada a outras coisas. Por que foi então?

Falta de motivação gera procrastinação. Dizem que o culpado é uma disfunção no nosso cérebro, mais especificamente naquela parte que depende do neurotransmissor "dopamina" para controlar a atenção, motivação e o interesse.

Existe medicamento para isso? Existe. Dá para tratar? Dá. Mas o resultado não é 100%. Que maravilha seria se existisse um comprimidinho para tudo na vida.

Então como fazer?

Eu, de minha parte, assumi a minha condição como sendo o meu calvário. Palavra bem apropriada já que a Sexta-feira da Paixão está chegando.

Esse transtorno é a minha cruz e tenho procurado fazer dos infortúnios que acompanham esse transtorno a minha penitência. Já que eu vou ter que passar por isso enquanto eu viver, que pelo menos sirva para alguma coisa.
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