06 junho, 2009

Graça

Já faz algum tempo que não consigo fazer aquelas coisas que até algum tempo atrás fluiam sem nenhum empecilho, tipo orações, leitura, meditação. Não é que eu esteja inativa, muito pelo contrário. Parece que estou numa daquelas fases tipo caminhão atolado na lama; a roda gira, gira, gira, mas o caminhão não sai do lugar.

Explico: eu sento para ler um livro, e já no primeiro parágrafo que leio me pipoca um pensamento na cabeça desviando a atenção para a tal coisa pensada. No meio da reza do Terço então nem se fala. "Ah", diz o leitor desavisado, "mas isso é normal". Sim e não, depende da situação de cada um.

Vou dar um exemplo no meu caso: Imagine que você vá estourar pipoca, e coloca na panela uma xícara de milho. É milho pra dedel. Da mesma forma, e quase que com a mesma velocidade com que estes grãos de milho pipocam na panela, acontece com os pensamentos que pipocam na minha cabeça nos dias em que, por alguma razão que desconheco, as sinapses do meu cérebro resolvem pipocar. O pior é que o corpo acompanha aquilo que o cérebro comanda, e aí a gente fica pulando feito pipoca de um lugar para outro, de uma atividade para outra, sem terminar nem uma nem outra. E no final do dia se está exausto e não se realizou absolutamente nada de concreto.

Tenho meditado muito sobre isso, e a sensação de viver uma vida na qual não se tem o controle daquilo que se deseja fazer é frustrante, no mínimo. Note que isso acontece em todos os aspectos da vida. Para mim não importa muito a desorganização da casa, mas o bicho pega em se tratando de espiritualidade. A sensação de impotência, de miséria mesmo, na hora da oração para aquele que procura agradar a Deus, é esmagadora. Não consigo deixar de lembrar na frase de Cristo: "não fostes capaz de vigiar uma hora comigo? " A realidade é estarrecedora: não, tem dias que não sou capaz de vigiar nem mesmo cinco minutos.

Meu Deus, como pode ser isso? Não me considero uma pessoa relapsa! A resposta que eu obtive em minhas orações, desse jeito mesmo, é que "tudo é graça". O que isso quer dizer?

Para quem acredita em Deus e no Cristo de Deus, isso significa que nada nessa vida conseguimos por nossas próprias forças. Sem a graça de Deus, sem o dedo de Deus em nossas vidas, é impossível fazermos o que quer que seja. Até mesmo rezar.

E para aqueles que são que nem são Tomé, somente quando a vida parece que não vai para a frente, aliás, quando a vida não vai para lado nenhum, e a gente fica com aquela sensação de que somos meros passageiros num bonde que está indo sabe-se lá para onde; somente aí percebemos que tudo é graça. Foi isso o que aconteceu comigo.

O que fazer nessas horas de impotência?

Se eu já não consigo acalmar meu pensamento para estar com Deus, ouvir e meditar sua palavra, como nos ensina a tradição, por exemplo, da Lectio Divina; a única coisa que me resta é oferecer a minha vontade, o meu propósito de fazer aquilo e a reconhecer a minha incapacidade de fazê-lo sem o auxílio de Deus. E esta é a minha oração; a medida do meu amor por Deus. Porque no final das contas, o que Deus quer de nós é que o amemos de volta e o resto fluirá deste amor.
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Enquanto isso, lá fora, o mar está calmo.
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