30 setembro, 2009

Pressão alta

Existe relação entre Distúrbio de Atenção e pressão alta?

Uma vez por ano vou ao médico checar se está tudo bem. A visita não tem nada de especial: verifica-se o peso, temperatura, pressão sanguínea, batimento cardíaco, pulmões. Depois é um aperta-aperta aqui e ali que me faz pensar se é assim que se sente uma massa de pizza.

[No mundo da Lua]: Hummm pizza, lombinho, catupiry, tomate ... ai que fome.

[De volta pra Terra]: Ah é, pizza não tem sentimentos.

Médica: Estou preocupada com sua pressão, toda vez que você vem aqui sua pressão está alta.

Eu: Sabe doutora, minha pressão sempre esteve mais para baixa do que para alta, vai ver que é porque toda vez que eu venho aqui, eu chego afobada porque estou sempre atrasada. (sheesh, será que ela esqueceu que eu sofro de TDA)

Bom, ela não se convenceu, e eu saí de lá com a tarefa de medir a minha pressão 3 vezes ao dia, durante um mês.

Voltei com as medições: baixa pela manhã, alta (mas nem tanto) no almoço, e voltando ao normal antes de dormir.

Médica: Estou preocupada com essa flutuação na sua pressão, você está fora do peso e seu colesterol está alto. Você vai ter que fazer uma hora de exercício cardiovascular todo dia, vou passar receita para o colesterol e para a pressão.

Aff... Haja pressão.

Eu: Tudo bem doutora, minha mãe tem colesterol alto e parece a Oliva Palito, eu sei que dessa eu não escapo. Agora, será que a pressão não está flutuando assim por causa do medicamento para TDAH. Veja bem, de manhã quando a pressão está normal-baixa, é quando eu tomo o medicamento; no almoço a pressão sobe porque o medicamento está agindo; à noite a pressão volta ao normal porque o remédio já foi eliminado. [Tah-dah!]

Médica: É, faz sentido. [dóin-óin-óin-óin-óin]

Ufa! Dessa eu escapei. Peraí, devolve meu dinheiro, pô.

Li numa publicação específica para Distúrbio de Atenção de 2008 o seguinte:

De acordo com os relatórios da American Academy of Pediatrics (AAP) publicados recentemente no periódico Pediatrics, apesar de sugestão prévia da American Heart Association, crianças e adolescentes não precisam fazer um eletrocardiograma (ECG) antes de tomar medicação para TDAH de ação estimulante como Ritalina, Adderall, e Concerta.

A American Heart Association (AHA) tinha publicado sua recomendação (sobre fazer o ECG) online em abril em resposta a um estudo que mostrou que os medicamentos estimulantes usados no tratamento de TDAH podem elevar a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos. Contudo, são raras as complicações graves advindas desses medicamentos, com incidência de morte súbita por medicamento estimulante ocorrendo numa taxa de 4 em 2.5 milhões de crianças americanas por ano.

A American Academy of Pediatrics (AAP), uma organização sem fins lucrativos composta por 60.000 pediatras, ficou preocupada que a recomendação da AHA resultasse em exames desnecessários e possivelmente impedisse as crianças de obter o medicamento para tratar o TDAH.

Como resposta, a AHA relaxou seu posicionamento sobre isso. Ambas as instituições ainda mantêm a importância de um exame completo antes de tomar medicamento estimulante, mas para a maioria das crianças, não é necessário fazer o ECG.
[No mundo da Lua]: Como esquecer a fome com toda essa sopa de letrinhas.

Bom mas e aí? Na sua opinião, o ECG deve fazer parte do tratamento de Distúrbio de Atenção? Como seu médico lida com isso? Você já teve ou tem esse tipo de problema?

Ah, você nunca tinha pensado sobre isso. Tudo bem, deixe seu comentário mesmo assim.
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14 setembro, 2009

Circuito de Recompensa

Foi observado déficit no Circuito de Recompensa Cerebral em pacientes que sofrem de TDAH.

Esse é o título do relatório de uma pesquisa feita com pessoas portadoras e não portadoras do Déficit de Atenção. Esta pesquisa foi feita nos Estados Unidos e contou com o apoio do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH-National Institute on Mental Health) e do Instituto Nacional de Abuso do Alcool e Alcoolismo (NIAAA-National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism) ambos parte do Instituto Nacional de Saúde (NIH-National Institutes of Health). O relatório foi publicado na edição de 09/09/2009 da revista JAMA (Journal of the American Medical Association).

Sopinha de letras à parte, e dada as devidas referências, vamos ao que interessa.

Os amigos que me perdoem a ignorância, mas eu não sabia que nosso cérebro possui uma coisa chamada Circuito de Recompensa. Por causa disto, quando li a notícia, é claro, fiquei boiando.

Então não dava para continuar lendo a notícia, sem saber que raios é esse tal circuito. É claro que eu continuei lendo, imagina se eu ia parar ali. Entendi "lhufas" daquilo li. Mas é para isso que existe o "pai dos burros", quer dizer, o Google. Que maravilha é a tecnologia! Encontrei esse site que explica direitinho como funciona esse circuito.

Mas não explica a tal da deficiência. E sou eu quem vai ter um curto-circuito, já já.

Isso tá lá no relatório e só quem assina a tal publicação (JAMA) é que tem acesso ao texto. Não se desespere. Para quem não assina o JAMA, um resumo das descobertas pode ser encontrado, em inglês, na "Press Release" do laboratório onde foram feitas as pesquisas.

Se você sofre de TDAH, você já deve estar de saco cheio resmungando porque eu não vou logo ao que interessa. Credibilidade é a resposta, preciso dar credibilidade aquilo que estou escrevendo.

Vamos lá!

A deficiência que eles encontraram é uma quantidade menor de receptores e transportadores(bomba de recaptação) de dopamina na sinapse. A explicação da sinapse está no último quadro da apresentação que eu indiquei lá em cima. Como eu sou uma pessoa que gosta de visualizar as coisas, resolvi colocá-lo aqui.


De acordo com a pesquisa, nós TDAHs possuímos menos quantidade de receptores (em vermelho), e menos quantidade de transmissores (em azul). Ou seja, é uma questão fisiológica, física.

Qual o impacto disso?

Achava-se até então, que nossos cérebros produzem menos dopamina. A pesquisa não trata disso. Ela mostra no entanto, que temos menos receptores e transportadores de dopamina. No frigir dos ovos, o resultado é o mesmo: não sentimos satisfação, realização, prazer em coisas que pessoas "normais" sentem da forma como elas sentem. Ou então, sentimos menos satisfação - e portanto não temos motivação suficiente.

A pesquisa foi feita em equipamento de Tomografia por Emissão de Positrons (PET). Isso é importante porque até hoje não havia um meio de se testar se uma pessoa possui Deficit de Atenção ou não. O diagnóstico fica sujeito a um critério subjetivo do médico. O problema é que tem médico que acredita que TDAH não existe.

Estamos longe de poder obter o diagnóstico por equipamento PET. Mas vai chegar o dia em que o indíviduo vai poder fazer uma tomografia que indicará se os níveis de receptores e transmissores de dopamina no circuito de recompensa cerebral são normais ou não.

Mas fica só nisso?

Claro que não. TDAH é muito mais complexo do que só uma questão de recompensa. A possibilidade concreta da tecnologia permitir que se faça o diagnóstico é muito animador. Minha esperança é chegar o dia em que não se ouvirá mais TDAHs sendo chamados de preguiçoso, burro, lerdo, vagabundo, sapeca, levado e mais outros adjetivos a critério seu.

TDAH não é um problema moral, nem muito menos de disciplina e auto-controle. TDAH é real!
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09 setembro, 2009

Agora é o livro

«DDAs (nome dado a quem sofre de TDAH) adoram livros. Isso não é uma surpresa, visto que temos um apetite por novas estórias, ideias, e informação. Mas a falta de tempo, energia e concentração faz com a gente não leia tanto quanto gostaríamos de ler.» -- Michael Sandler.

Li isso num artigo da revista americana ADDitude.

Cadê meu livrooooo!

Se você leu a minha postagem de ontem, você deve estar pensando que eu sou mesmo cabeça oca. Hoje finalmente caiu minha ficha .

Sabe o que é: sexta-feira passada eu estava tomando café sentada lá fora. Tinha comigo o meu Terço, meu livro de orações e o livro O Estrangeiro de Alberto Camus que o pessoal do Clube do Livro do Orkut está discutindo esse mês. E eu já estou atrasada na minha leitura. Pretendia ler o livro depois das minhas orações e passar uma manhã agradável, relaxante, ao ar livre (comprovadamente benéfico para DDAs) na companhia da minha gatinha.

No meio da minha oração, escutei um barulho e quando fui ver era um passarinho que tinha trombado na janela da sala. Caiu duro no chão e não se mexia. O inverno está chegando e os passarinhos passam por aqui em rota para o sul. As andorinhas já se foram, as borboletas também. Esse passarinho eu ainda não tinha visto.

A partir daí, na minha cabeça DDA tudo virou secundário. A urgência de chegar até o bichinho antes do gato era óbvia.

Urgência, salvamento, o inesperado, surpresa: dá-lhe dopamina no cérebro. Tirei um monte de foto, queria ligar para o maridão lá no hospital e contar a novidade, será que precisava levar no veterinário? Entrei em auto-foco. O foco era o bem estar do passarinho; nada mais importava.

Peguei o passarinho na mão, levei para dentro da casa, dei água, procurei ver se não tinha se machucado - o coitado estava tão quente, sabe-se lá de onde ele estava vindo.

Afastado o perigo do gato e constatado que ele não estava sangrando, abri a minha mão e fiquei esperando que ele voasse.


Ele não voou. Pelo contrário. Fez cocô na minha mão! Depois de ter se aliviado, acabou levantando voo e eu voltei pra casa, toda emocionada querendo contar para todo mundo sobre o evento tão inusitado. E lá fui eu para o computador. Depois de muitos e-mails pra lá e pra cá, ficamos sabendo: trata-se de um Yellow Warbler.

Uau! Yellow Warbler! Mas o que é isso em português? Mais internet, mais Google e lá se vai o dia.

Trata-se de um Mariquita Amarela. Aí me lembrei da minha professora Dna. Mariquinha... e mais todos os coleguinhas de classe.

Nessa agitação toda, eu te pergunto: onde é que foi que eu botei o livro?

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O Terço eu já achei.
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08 setembro, 2009

Miau!

Já tem duas noites seguidas que minha gatinha me acorda às cinco da madruga. Não, não faço a menor idéia por que. E o meu sono, ó, miau!

O fato é que noite mal dormida é um veneno para quem sofre de TDAH. Quem tem, sabe do que estou falando. E TDAH atacado é dose para elefante.

E agora estou eu aqui, com os pensamentos pulando feito pipoca na minha cabeça: não consigo me concentrar naquilo que estou lendo; cometo erros patéticos na escrita; e quando vou falar pareço bêbada, o que sai da minha boca não faz sentido nenhum: e eu, frustrada, acabo sendo grosseira com quem não tem nada a ver com isso - leia-se, meu marido.

É preciso muita calma nessa hora. Meditar ajuda, ouvir música também. Mas quem é que consegue fazer uma ou outra quando tua cabeça fica te sugerindo idéias de coisas diferentes para fazer a cada segundo????

E por falar em meditar, não sei onde coloquei meu Terço, ainda bem que tenho mais que um - aliás a reza dele foi uma piada, ainda bem que para Deus não existe oração perdida.

A paciência é uma virtude que já tinha que vir de fábrica em qualquer TDAH. Como não é, e não dá para a gente ter um cérebro de reserva (já pensou?), sugiro que você tenha coisas essenciais em dobro na sua casa: duas chaves de carro, duas chaves da porta, duas tesouras, dois telefones sem fio, dois Terços... e já vai avisando o maridão: é bem possível que o jantar saia queimado hoje.
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Mas o que é que eu tinha que fazer mesmo ...? Já sei, vou encomendar uma pizza.
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