25 agosto, 2009

Um dia na vida de...

Confissões de distraídos anônimos... Visto, lido ou ouvido nesse mundão afora..

Fui diagnosticada recentemente com TDAEI - Transtorno do Deficit de Atenção Estimulado pela Idade

É assim que se manifesta:

-Dedidi aguar os vasos de plantas no jardim da frente.
-Quando fui abrir a torneira da mangueira, olhei para o meu carro e percebi que precisava ser lavado.
-Fui pegar a chave do carro que estava na varanda e vi que o correio tinha chegado.
-Decidi verificar o que tinha chegado antes de começar a lavar o carro.
-Coloquei a chave do carro na mesinha da varanda, separei a correspondência e coloquei o que não prestava num cesto de lixo perto da mesinha, e percebi que o lixinho estava cheio.
-Então, decidi colocar as contas para pagar na mesinha e colocar o lixo pra fora.
-Aí pensei, posso aproveitar para ir até a caixa do correio quando for colocar o lixo pra fora, então é melhor fazer os cheques para pagar as contas e evelopar tudo agora.
-Peguei meu talão de cheques e percebi que só tinha uma folha.
-Meu outro talão de cheques estava na mesa do computador, então entrei em casa e fui até minha escrivaninha onde encontrei a lata de Coca-Cola que eu tinha começado a tomar mais cedo.
-Para pegar meu talão de cheques, precisei mudar a lata de Coca de lugar para não esbarrar nela acidentalmente.
-A Coca estava esquentando então decidi colocá-la na geladeira.
-Levando a Coca-Cola, quando cheguei na cozinha vi um outro vaso na janela - as plantas precisam de água.
-Coloquei a Coca no batente da janela e descobri onde estavam os meus óculos que estava procurando desde cedo.
-Decidi que é melhor colocá-los na minha escrivaninha, mas antes fui regar as plantas.
-Coloquei os óculos de volta no batente, enchi uma vasilha com água e de repente vi o controle remoto da TV. Devo tê-lo deixado ali na mesa da cozinha.
-Aí me dei conta que quando fosse assistir TV hoje à noite, iria ficar procurando pelo controle remoto, mas não iria me lembrar que ficou na mesa da cozinha, então decidi colocá-lo de volta perto da TV onde é o lugar dele, mas antes, fui regar as plantas.
-Coloquei um pouco de água no vaso, mas a água espirrou no chão.
-Então, coloquei o controle remoto de volta na mesa da cozinha, peguei um pano e enxuguei a água.
-Aí voltei para a sala tentando me lembrar o que é que eu pretendia fazer.

No final do dia:

-Os vasos de planta do jardim da frente não foram regados,
-O carro não foi lavado,
-As contas não foram pagas,
-Tem uma lata de Coca-Cola quente no batente da janela perto da escrivaninha,
-As flores do vaso da cozinha não receberam água suficiente,
-Só tem um folha de cheque no meu talão,
-Eu não consigo encontrar o controle remoto,
-Não consigo encontrar os meus óculos,
-E NÃO faço a mínima idéia do que eu fiz com a chave do carro.

Aí, quando tento raciocinar por que nada foi feito hoje, eu fico absolutamente confusa porque eu sei que eu estava ocupada o dia inteiro, e estou completamente exausta.

Percebo que este é um problema sério e tento encontrar ajuda para isto, mas antes preciso checar meu -email.

Faça-me um favor, envie essa mensagem para todo mundo que eu conheço, porque eu certamente não me recordo para quem eu já mandei.


Ficou atordoado? Agora imagine: essa é a rotina da maioria dos TDAH. Esse bem que podia ter sido o meu dia. A diferença é que eu quero encontrar Deus nessa bagunça toda.
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Lá fora está abafado. Será que vai chover?
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23 agosto, 2009

Em cima do telhado

Confissões de DDAs... Visto, lido ou ouvido nesse mundão afora...

Eu me lembro de uma prova na faculdade; a pergunta era: "Aonde você iria se quisesse ver a constelação "tal". Minha resposta foi "em cima do telhado". Eu e o professor ficamos discutindo a minha resposta durante dias. Pois, como eu não tinha carro, e só dá para ver as estrelas à noite, eu não ia caminhar no escuro à lugar nenhum para ver o que quer que fosse. Ele finalmente me perguntou em qual direção eu olharia se quisesse ver a constelação: "Para cima". Mas essa também não era a resposta correta. Até que enfim ele entendeu: Em qual direção, norte, sul, etc, você olharia se quisesse ver esta constelação. Eu respondi, passei na prova e consegui meu diploma.
Uai, faz sentido, não faz?

Promonho uma campanha pela clareza nos testes de conhecimento. Quem é a favor levante a mão.
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O dia está abafado, não corre uma brisa sequer.
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22 agosto, 2009

I made it through

Barry Manilow, um cantor dos anos 70, gravou uma música chamada I Made it Through the Rain (em português: Eu Sobrevivi à Chuva) e ela tem um significado especial para mim pois a letra reflete de uma forma poética a minha experiência como portadora do Déficit de Atenção.

Em primeiro lugar, ele se dirige aos sonhadores. É comum pessoas DDA serem tidas como que vivem no mundo da lua, sonhando acordado. Também possuem seu jeito próprio de encarar as coisas, diferente do considerado "normal".

As analogias são muito parecidas.

Esse transtorno, deixa o sofredor, em determinados dias, como se estivesse sob uma névoa densa, um dia nublado, pesado, chuvoso, sem visibilidade, sem rumo. Nesses dias, a gente tenta se segurar, se proteger para não sair da estrada e não cair ribanceira abaixo. E quando tudo isso passa, é como se a névoa se dissipasse, as pesadas nuvens passassem, e o sol saísse de novo - a vida fica mais clara.

A luta é diária para saber lidar com isso, passar por esses momentos de forma vitoriosa, sem muito estrago, e sobreviver. Muitos passam por isso e não sabem por que. Muitos não demonstram. Muitos não entendem. Muitos são marginalizados por serem do jeito que são, até pela própria família que não entende isso direito. Afinal, se não for tratado, o sujeito acaba passando por preguiçoso, lerdo, ou grosso. O tratamento é nosso farolete, nosso guarda-chuva, nosso desumidificador, nosso limpador de parabrisa.

Uma outra característica que afeta bastante os portadores é o falar sem pensar, falar mais que a boca, interromper à todo momento, ou a sinceridade bruta. Por causa disso, existe uma grande dificuldade em manter amizades, afinal quem é que suporta viver perto de gente assim. Essa é uma luta solitária.

O importante é não desistir; porque muito embora o sol apareça de vez em quando e dissipe a névoa causada pela falta de concentração mental, somente na redenção, conquistada por Cristo Jesus, é que o Sol irá brilhar permanentemente. Você que anda por esse mundo afora, e sofre deste mesmo mal, coragem. No nosso destino final, nos encontraremos e diremos uns para os outros; "Eu sobrevivi" - I made it through.

Esta é a letra da música, e ela pode ser ouvida no YouTube (se eles não removerem o clip) clicando nesse link

Lembre-se que tradução de poesia não dá para ser literal!

-- O nome da nossa chuva é Deficit de Atenção --












































































































We dreamers have our waysNós sonhadores temos nosso jeito
Of facing rainy daysDe encarar os dias chuvosos
And somehow we surviveE de alguma forma sobrevivemos


































We keep the feelings warmNão deixamos os sentimentos esfriarem
Protect them from the stormProtegendo-os da tempestade
Until our time arrivesAté que chegue a nossa hora


































Then one day the sun appearsE aí o sol aparece
And we come shining through those lonely yearsE saímos daqueles anos solitários brilhando novamente


































I made it through the rainEu sobrevivi à chuva
I kept my world protectedConsegui proteger o meu mundo
I made it through the rainEu sobrevivi à chuva
I kept my point of viewNão perdi o rumo
I made it through the rainEu sobrevivi à chuva
And found myself respectedE encontrei o respeito
By the others whoDaqueles que
Got rained on tootambém se molharam (passaram por isso)
And made it throughE sobreviveram


































When friends are hard to findQuando é difícil encontrar amigos
And life seems so unkindE a vida parece tão desgradável
Sometimes you feel so afraidé normal sentir medo


































Just aim beyond the cloudsNesse momento, mire para além das nuvens
And rise above the crowdssobressaia-se diante das multidões
And start your own paradeE siga em frente


































'Cause when I chased my fears awayPorque quando eu espantei o medo
That's when I knew that I could finally sayFoi aí que eu descobri que podia dizer finalmente


































I made it through the rainEu sobrevivi à chuva
I kept my world protectedNão perdi o rumo
I made it through the rainEu sobrevivi à chuva
And found myself respectedE encontrei o respeito
By the others whoDaqueles que
Got rained on tootambém se molharam
And made it throughE sobreviveram


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Lá fora o dia está ensolarado. É final de Verão, de vez em quando tem uma pancada ou outra de chuva.
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20 agosto, 2009

Confiança

"Eu não pus a confiança no meu arco,
a minha espada não me pôde libertar;
mas fostes Vós que nos livrastes do inimigo..."
Sl 43(44), 7ss.

Quê isso? Arco? Espada? Inimigo?
Sai pra lá, ô! Não estamos mais em época de arco e flecha, hoje em dia temos uma tecnologia mais avançada, somos modernos, usamos homens-bomba. Tem gente que afirma de pé junto que o virus H1N1 foi feito para matar o inimigo.

Teorias da conspiração à parte, como entender os salmos hoje? Esse aí em particular, será que dá para fazer uma analogia? Vamos tentar...

Quem é seu inimigo?
Ninguém, "eu sou da paz"!

Tudo bem... então vamos refazer a pergunta:
O que é que você está tentando vencer em si mesmo?

A impulsividade? Falar sem pensar? A falta de organização? A inquietação?

Ah! mas você não sofre de Transtorno da Atenção... tudo bem!

Quem sabe, então, precisa dar um jeito no desânimo que de vez "em sempre" te ataca ou essa depressão que parece que veio para ficar. Talvez preguiça, maus pensamentos, ciúmes, inveja, rancor, mágoa...

Conseguiu perdoar aquela pessoa? É, essa mesmo!

E a sua língua, como vai? Anda bastante ocupada ultimamente?

Quando eu penso em inimigos, é nisso que eu penso. Afinal, foi São Paulo quem disse que não é contra homens de carne e osso que temos que lutar (cfr. Ef., 6).

Então. Como está a sua luta contra a irritação ou a falta de paciência? Ah, a falta de paciência. Quanto mais paciência eu peço, menos eu tenho! Não tem nada de carne e osso na falta de paciência, não é mesmo?

O salmista diz que não pôs a confiança no seu arco, isto é, não se apoiou nas suas próprias armas, nas suas próprias forças. Mas declara que é Deus quem o liberta de seus males. E indiretamente nos dá a entender que é Nele que devemos por a nossa confiança.

Mas o que isso significa? Será que se eu por a minha confiança em Deus eu serei transformada num poço de paciência? Para Deus nada é impossível, mas não é nisso que eu me concentro.

Se, no momento em que parece que vou explodir, eu conseguir me lembrar de Deus e dizer "me ajuda, Senhor", para mim já é uma grande coisa. Porque eu sei que por minhas próprias forças eu não consigo acalmar meu coração. Não tem cházinho nem vinho que dê jeito.
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Falando em vinho, lá fora faz um sol maravilhoso, e uma taça de Sauvignon Blanc cairia muito bem, pena que aqui em casa não tenha nenhum. Haja paciência viu! O jeito é ir de chá gelado mesmo.
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11 agosto, 2009

Amor

Outro dia estava na Missa e a minha mente estava à mil. Era um daqueles dias em que não dá para relaxar. Um daqueles em que não dá para não prestar atenção à tudo que está acontecendo ao redor. O cérebro estava hiperativo, turbinado, e tudo me chamava a atenção.

É enorme a energia que o corpo gasta para acompanhar os pensamentos quando estamos neste estado mental. Além disso, a gente fica tentando controlar esses movimentos cerebrais, como se isso fosse possível. Inútil, absolutamente inútil falar interiormente para parar de prestar atenção nisso ou naquilo, para tentar relaxar, para se interiorizar. Dias assim geralmente a gente fica esgotado fisica, mental e emocionalmente.

Então, não há como se concentrar no sacrifício da missa. A mente presta atenção no cara que chegou atrasado, no sapato da fulana da frente, na bolsa da mulher do lado... Na tentativa de parar esse processo, fecho os olhos, mas a mente está em estado de alerta e se recusa a sossegar, então os sons tomam vida própria, e aí surge a pessoa que está com pigarro na garganta, a outra que parece que tem formiga onde está sentada, as duas senhoras que não param de cochichar, a pessoa que reza adiantado, etc. Dá para perceber o que está acontecendo? É, vou ficando aos poucos e cada vez mais, irritada!!! E cansada, afinal gasto uma energia enorme tentando controlar esses pensamentos que saltam feito pipoca na minha cabeça.

E a coisa vai piorando, o padre é gago e não enxerga direito; a pessoa que foi fazer a leitura devia estar nervosa e se perdeu no texto, o pessoal da coleta devia estar dormindo porque demoraram para passar a cestinha. Acho que nem preciso falar da música, fora de compasso e desafinada, a moça se perdeu na partitura. Aaarrrrggghhhhhhh... tenho vontade de gritar.

Depois da comunhão converso com Jesus, explico a minha frustração, digo que estou inconformada com a falta de preparo e o desleixo desse povo. Será que não dava para eles terem se preparado melhor, Jesus, para servi-lo de forma apropriada? Será que o Senhor não merece mais dedicação?

"Mas o que Me importa é o amor com que eles fazem essas coisas por Mim."

Já dizia São Paulo:

"Ainda que eu tenha o dom de profecia e conheca todos os mistérios e toda a ciência, ainda que possua a fé em plenitude, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada sou. Ainda que reparta por inteiro os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita."

Da última vez falei de graça. Esse dia na missa recebi a graça de perceber aquilo que é importante na vida: o amor que colocamos naquilo que fazemos.
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Lá fora o dia está belo e a brisa é leve.

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